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No Papo de Futuro desta terça dia 02/05 as 06h45min "O papel da escola, da merendeira até o topo da carreira educativa.
30/04/2023 18:23 em Atrações

O papel da escola, da merendeira até o topo da carreira educativa: a solução para a violência nas escolas passa não pela porta, mas por uma nova escola

 

Hoje a gente volta ao assunto da criminalidade nas escolas. A tese é de que há coisas que não se pode evitar. Só há um caminho: o a transformação. O problema não é tempo, é a paciência para usar as ferramentas necessárias, e o Papo de Futuro mostra hoje que não se trata apenas de trocar o vigilante no portão da escola!

 O Brasil não tem tradição em estudos científicos, muito menos em estudo em política pública, e pior ainda em políticas continuadas que duram anos a fio até chegarem ao seu destino. Aqui, muda governo, muda tudo. Os papéis se perdem, as diretrizes são outras, e a gente se pergunta: qual é a próxima invenção?

Com cinco décadas dedicadas a um único tema, a educação, Ricardo Martins fez questão de não sair da sala de aula, mesmo quando está trancado no seu gabinete na consultoria da Câmara dos Deputados.

Para avançar no tema da semana passada, em que destacamos como a internet incentiva crianças a colocar o horror dos jogos e do mundo virtual na prática, atacando as escolas brasileiras, eu pedi ao Ricardo Martins que me explicasse qual é o papel da escola.

Ricardo Martins é mestre, professor, doutor, especialistas em políticas públicas, um defensor da cultura da Paz.

Ricardo diz uma formação educativa de todos os atores da escola é a única forma de criar uma contra onda à violência nas escolas:

“A formação continuada é feita de várias formas, eu defenderia uma política púbica que tive cursos formais, oficinas de trabalhos, intercâmbios entre os educadores, formação à distância, troca de boas experiências, e eu acredito que seria possível fazer de uma maneira bastante rápida, porque você tem no pais pessoas que são estudiosíssimos que teriam uma forma profunda para apresentar soluções na área da pedagogia, da psicologia, da infraestrutura. ”

Da mesma foram que as escolas se reinventaram na pandemia, com o isolamento social, com muitas aulas por aplicativos de mensagens, será que a escola também consegue se reinventar na resolução de conflitos dentro dos muros escolares?

A Câmara vai se debruçar sobre um estudo que passa pelo encorajamento, no empoderamento de cada um dos atores da escola, usando algumas ferramentas bastante simples: diálogo, expressão pessoal, expressão do conflito como forma de estar no mundo, aceitar a raiva, entender a frustração, criar espaços de comunicação sem tantos julgamentos, permitir que algumas emoções sejam vistas e compreendidas, algo diferente do que a mera repressão, que é hoje a resposta mais óbvia e menos adequada.

Abrir o espaço para este olhar diferenciado, inovador, cuidador. É o que explica o Ricardo: como fazer essa revolução silenciosa….

“O conflito é um dado de realidade, o inconformismo. O que é preciso é que a escola saiba ligar com isso, ela precisa conhecer, saber ler os sinais, e precisa se transformar num espaço de diálogo e não de coerção, para que os jovens possam se expressar, tanto os que estariam propensos a cometer atos, tanto os colegas que percebem o que está acontecendo e possam expressar”.

 A realidade das redes sociais, que põem ênfase na questão da violência, precisa ser olhada criticamente. E, quando os conflitos se manifestam, eles precisam ser enfrentados, dentro de um conceito de comunidade educativa.

Comunidade educativa e criativa. Ricardo Martins disse que a arma, as redes sociais, deve ser usada ao contrário, ou seja, como disseminadoras de conteúdo educativo, e não de conteúdo violento.

“Tem que usar a mesma arma no sentido contrário, o setor educacional também tem que se modernizar, para usar as redes sociais para dimensionar mensagens positivas, que façam esclarecimento às mensagens carregadas de negatividade. Tem que ser uma escola contemporânea, que esteja acompanhando o que acontece no seu tempo. Se a tecnologia é usada para coisas que favorecem o conflito, ela também tem que ser usada para favorecer o entendimento, a paz, a concórdia, o respeito.”

A gente não está falando do laboratório de informática da escola. Se o celular está na nossa pele, como uma extensão do nosso braço, faz sentido pensar em incorporar essas ferramentas na informação, mas como fazer isso se muitas escolas não estão sequer conectadas na internet?

 Este é o outro desafio.

No levantamento feito pelo governo, apenas 25% das escolas públicas tem banda larga efetiva. Para levar biologia ou matemática por meio do celular, é preciso mais do que acesso ao Facebook.

É preciso ter uma rede de conectividade básica e essa responsabilidade foi transferida para as teles por meio dos editais de licitação para implantação do 5G no Brasil, no qual estão reservados pelo menos 3,5 bilhões de reais.

Para se ter uma ideia do alcance do desafio, em 2019, o Brasil contabilizava 47,8 milhões de matrículas na educação básica, que engloba a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio. (1)

No universo de 138,8 mil escolas públicas municipais, estaduais e federais, o retrato inicial diz que apenas 9,7% (13.493) unidades estariam sem Internet. Nada disso.

Se considerarmos o parâmetro mínimo da banda larga para escolas como 1 Mbps, o total unidades das descritas como conectadas desce de 103,4 mil para 74 mil. E as sem banda larga aumentam para 64,8 mil, ou 46,68% sem Internet efetiva. (2)

Paulo Freire, um dos principais pedagogos do século XX, defendia que a cultura de paz nas escolas deveria ser construída por meio de uma educação crítica, libertadora e dialogal.

Segundo Freire, a cultura de paz é um processo de construção coletiva, que deve ser desenvolvido por toda a comunidade escolar, e não apenas pelos professores. Isso implica em promover uma educação que valorize o diálogo, o respeito às diferenças, a tolerância, a cooperação e a solidariedade.

Soluções não fáceis, mas possíveis:

  1. Promover a participação ativa dos alunos nas decisões da escola;
  2. Estimular o diálogo entre os diferentes segmentos da comunidade escolar (alunos, professores, funcionários, pais e responsáveis;
  3. Desenvolver atividades pedagógicas que valorizem a cooperação e a solidariedade;
  4. Fomentar a prática da mediação de conflitos;
  5. Estimular o respeito às diferenças e a valorização da diversidade, combatendo o preconceito e a discriminação.

A paz é possível. É só a gente querer. As ferramentas estão aí. O mito da cordialidade do brasileiro não vai nos salvar. Ele é apenas um mito.

É preciso começar já.

Você ainda pode enviar a sua sugestão de tema, crítica ou sugestão para o WhatsApp da Rádio Câmara (61) 99978-9080 ou  para o email papodefuturo@camara.leg.br.

Comentário – Beth Veloso
Apresentação – Marcio Achilles Sardi

 

* Pode haver diferenças entre o texto escrito e a gravação do programa.

 

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