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Papo de Futuro desta terça dia 07/11 as 06h45min destaca "Por que a verdade é a primeira vitima das guerras?".
04/11/2023 19:41 em Atrações

Márcio: O Brasil e o mundo estão imersos na guerra da desinformação que vem do Oriente Médio ou da Rússia, locais que são palco de guerras brutais e muito dolorosas. Estamos falando da guerra entre Israel e Hamas e entre a Rússia e a Ucrânia. A desinformação não é apenas a morte da verdade. Ela é uma máquina de poder que move o capitalismo digital. Estamos na era da pós-verdade. O Papo de Futuro hoje é dedicado a explicar por que a mentira que se espalha como fogo na internet tem um poder de destruição igual, ou até maior, que os tanques de guerras e as bombas.

Será que você já se perguntou como eu posso acabar com as guerras no mundo? Se fosse possível, você faria a sua parte para que palestinos e israelenses entrassem em acordo? Por acaso alguém já te disse que a paz também está nas suas mãos?

Pois então me responda às seguintes perguntas: quantos vezes você viu imagens chocantes de pessoas vitimadas pelas guerras, que te deixam atordoados? Quanto vezes você compartilhou essas imagens? Quantas vezes você polarizou o debate em cima de informações cercadas de juízos e acusações ao “outro lado”, fazendo comentários cheios de intolerância e incitação à violência.

Se você não percebeu, estamos em meio a várias guerras, e a maior de todas elas é a guerra da desinformação. Todo mundo que posta e compartilha conteúdo sensacionalista, de culta à barbárie, imagens de corpos humanos sem vida ou informações sobre o ataques, chacinas, atrocidades sem checar, está fazendo parte do exército da desinformação.

Em outras palavras, você está trabalhando de graça para as big techs ganharem mais dinheiro, pois a desinformação viaja sete vezes mais rápido do que a informação checada de fonte fidedigna.

Eu conversei com o Marco Schneider (1), ele é Professor de ética jornalística na Universidade Federal Fluminense e do Programa de pós-graduação em Ciência da Informação, no Ibict, Pesquisador da Faperj e do CNPq e autor do livro “A Era da Desinformação: pós-verdade, fake news e outras armadilhas”, publicado no ano passado, 2022, pela Editora Garamond. (2)

E explica como as empresas de tecnologia e as redes sociais são partícipes das guerras, ao permitir que notícias fraudulentas sejam patrocinadas na rede mundial de computadores: “além de impulsionamento pago e verdadeiros exércitos de bots e pessoas mal pagas, como a desinformação é marcada por apelos emocionais, ao medo, à raiva, ela gera mais engajamento do que informações verdadeiras e racionais,  o que, por sua vez, aumenta o lucro das big tech, que, portanto, pouco fazem para conter a desinformação, justificando a negligência com a defesa da liberdade de expressão.”

As redes sociais, onde estão mais de 66% da população brasileira, são hoje a principal fonte de informação. Se esta informação está contaminada por mentiras ou fraudes, essas empresas deveriam remover este conteúdo não é Beth. Ou serem responsabilizadas, se não o fizerem.

Imagina Márcio, se a gente ouvisse no rádio e na TV uma noticia de que os alienígenas estão invadindo a Terra e isso causasse pânico e milhares de mortes. As emissoras de rádio e TV seriam processadas por isso, não acha? Seriam até mesmo fechadas, verdade? Teriam sua licença de transmissão cassada?

Hoje, a desinformação que é, segundo o Marco Schneider, uma informação total ou parcialmente falsa cujo objetivo é tão somente enganar e manipular, é patrocinada nas redes sociais, pois o apoio da opinião pública é fundamental para vencer o adversário.

É aí que entra a pós-verdade, que, segundo o dicionário Oxford (3), se refere a “algo que denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência para definir a opinião pública do que o apelo à emoção ou crenças pessoais”.

E a pandemia da Covid foi um bom exemplo desse laboratório gigantesco em que a internet se tornou na guerra de ideologias, manipulações e jogo de mentiras sem pensar nas consequências para a sociedade: “quanto à guerra da desinformação, não no sentido estritamente militar, mas no político ideológico, ela se materializa na internet como expliquei acima e, essa sim, faz de todos nós vítimas.  Principalmente milhares de mortes que poderiam ter sido evitadas na pandemia da Covid-19, além de toda angústia, ansiedade que se cria quando países como Estados Unidos e Brasil parecem se transformar, em alguns momentos, em hospícios coletivos a céu aberto.”

A questão aqui é discutirmos até que ponto a liberdade de expressão não alcança todos os tipos de manifestações na internet. Pois, teoricamente, todos nós somos livres para manifestar o nosso pensamento, expressar a nossa opinião.

Usar o apelo emocional ou espalhar medo para promover atos de terror, incitar a violência, atacar a dignidade humana com a divulgação de corpos mutilados ou demonizar o inimigo de guerra com notícias criminosas, promover o culto ao herói no caso de terrorismo, ataques a civis, massacres em escola e tudo que move a indústria da desinformação não é liberdade nem está protegido pela lei ou pela  Constituição brasileira. É crime.

A má notícia é que a mobilização do ódio na sociedade tem raízes muito profundas no modelo de negócios que tomou conta da internet dos grandes oligopólios, que usam algoritmos para vender publicidade em cima do que há de pior na humanidade em termos de escárnio, sensacionalismo e manipulação.

Essas big techs agem sozinhas ou aliadas com governos e são controladas pelo grande capital, como explica Marco Schneider:

“Mas o que há de novo nisso? Essas práticas sempre existiram. O que diferencia então desinformação de golpe, fraude, engano ingênuo, delação etc. é o momento histórico e a infraestrutura tecnológica da nossa época, marcada por quatro fatores centrais: crise da hegemonia do capitalismo ocidental; crise ecológica; recrudescimento da extrema direita; e massificação das tecnologias de informação e comunicação, na forma de smartphones com acesso a mídias digitais, controladas pelas grandes corporações conhecidas por big tech, com suas “plataformas” de produtos, serviços, vigilância e extração de dados, valiosíssimos no mercado da publicidade programática, entre outros negócios.

O Papo de Futuro está muito pesado hoje. A gente queria que tudo isso fosse uma grande “Fake News” ou desinformação… ou apenas uma brincadeira de mau gosto.

Mas o trote hoje vem do mercado estadunidense das big techs que fingem monitorar conteúdos virulentos, nocivos e criminosos na rede.

Esta é uma guerra por si só. A maior de todas… Por isso, não compartilhe conteúdos sobre os conflitos militares sem checar as fontes de informação. Há diversas redes de checagem da desinformação na internet (4), mas isso a big tech não te diz, não patrocina e nem publiciza essas redes do bem.

Talvez você não saiba, mas pense nisso: as big techs são uma arma de guerra? E você, com a sua inocência, quer mesmo fazer parte desse exército da desinformação?

No seu artigo no jornal El País de 22 de outubro passado (5), ao comentar a guerra no Oriente Médio, o filósofo da internet, Yuval Harari, disse: “do lado de fora, aqueles que não estão dominados pela dor deveriam fazer um esforço para empatizar com todos os seres humanos que estão a sofrer, em vez de se limitarem a contemplar preguiçosamente uma parte da terrível realidade.

Em outras palavras: seja um mensageiro da paz.

Eu termino este programa com um longo silêncio…

Você ainda pode enviar a sua sugestão de tema, crítica ou sugestão para o WhatsApp da Rádio Câmara (61) 99978-9080 ou para o e-mail papodefuturo@camara.leg.br.

  • SCHNEIDER, Marco. CCI/7: competência crítica em informação (em 7 níveis) como dispositivo de combate à pós-verdade. In: BEZERRA, Arthur Coelho; SCHNEIDER, Marco; PIMENTA, Ricardo M.; SALDANHA, Gustavo S. iKritika. Estudos críticos em informação. Rio de Janeiro: Garamond, 2019. Disponível (grátis) em: https://www.garamond.com.br/loja/ikritika-ebook. Acesso em 24.08.2020.
  • SCHNEIDER, Marco. A Era da Desinformação: pós-verdade, fake news e outras armadilhas. Rio de Janeiro: Garamond, 2022.
  • https://www.academia.org.br/nossa-lingua/nova-palavra/pos-verdade#:~:text=“Pela%20definição%20do%20dicionário%20%5BOxford,à%20emoção%20ou%20crenças%20pessoais%27.
  • Pesquisas. Disponível em: https://rncd.org/pesquisas/. Acesso em: 27 set 2023.
  • https://elpais.com/opinion/2023-10-22/el-mundo-debe-conservar-un-espacio-para-la-paz.html

Comentário – Beth Veloso
Apresentação – Cláudio Ferreira

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