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Papo de Futuro desta terça dia 14/11 as 06h45min destaca "O futuro e a realidade virtual: o que esperar da IA em nossas vidas?".
12/11/2023 12:50 em Atrações

Em nossa jornada pelo tempo, hoje nos encontramos na encruzilhada da realidade e da virtualidade. O futuro, caros ouvintes e espectadores, está sendo tecido neste exato instante. No programa Papo de Futuro de hoje, exploramos um tema que transita entre o imaginário e a inovação: o futuro e a realidade virtual.

Eu pergunto a você: o que é o futuro para você? É aquilo que você vive agora, ou é a fantasia de viajar através de um tubo de dados, desmaterializando-se aqui para se reintegrar em algum outro lugar?

Ou será que você tem saudades daquele mundo onde tudo tinha seu objetivo específico? A máquina fotográfica, a agenda de papel, o computador de mesa, o espelho para se olhar, o relógio de parede, o escâner, o despertador de mesa, o console de jogos e, por um acaso, também um telefone. Hoje, é fascinante pensar que todos esses itens cabem na palma da nossa mão, no nosso celular.

Neste mundo cheio de contradições, soa como romance os programas de software baseados em modelos ou “vidas artificiais” e podem ter implicações profundas e diversas, pois esses programas simulam a vida real, com funções diversas, como testar a implementação de uma política de saúde, por exemplo.

O mais assustador é a ideia de que essas criaturas virtuais possam um dia adquirir uma forma de consciência. Isso levanta questões éticas e filosóficas complexas, como, por exemplo, discutir as dimensões morais dessa existência.

Recentemente, uma montadora no Brasil dispensou seus funcionários por telegrama, um exemplo de que a eficiência, nos valores da empresa, está acima da empatia.

E isso nos leva a uma realidade talvez sem segredos. Novos modelos de sistemas de inteligência artificial, como os Large Language Models (LLM), estão exibindo uma capacidade de inferência alarmante. A partir de meros textos fornecidos, eles podem inferir informações como localização, renda e sexo com uma precisão assustadora e com custos e tempo reduzidos. Isso não só erode a privacidade, mas também nos mostra que textos anonimizados não são mais suficientes para proteger a identidade dos usuários.

E nós estamos falando aqui das ameaças de chatbots invasivos que, segundo o estudo que eu li, tentam extrair informações pessoais até de perguntas inocentes.

Neste futuro em que a gente renuncia a direitos, como a privacidade, em troca de facilidades, como um gerador de textos por inteligência artificial, o fato principal é que não temos escolhas.

A privacidade também está em jogo. Modelos de IA agora podem deduzir quem você é com uma precisão assustadora. As perguntas que fazemos, mesmo as mais inocentes, podem ser chaves para revelar nossos segredos mais profundos.

Conversamos com o jornalista e cientista político Ademar Ferreira (1) . Ele traz à mesa previsões inspiradas em Ray Kurzweil (2), prometendo computadores superinteligentes até 2029 — máquinas que evoluem para alcançar o sucesso e descartar todos os resultados que se associam ao fracasso. E assim nos levar à uma vida imortal.

“Para falar do futuro, é preciso voltar algumas décadas ou séculos. O que tende acontecer é a gente fazer uma simbiose entre os produtos de tecnologia, o telefone celular, chips com a nossa existência, com o corpo humano. Melhorando a visão ou o raciocínio. O que pode acontecer é essa fusão entre a tecnologia de dados e o corpo humano”.

Com a previsão da ONU de uma população de 10 bilhões até 2050 (3), questionamos não só o crescimento populacional, mas também o valor da humanidade em si.

Até recentemente, o mundo precisava de mais pessoas devido às guerras. Agora, a tecnologia e a automação mudaram o jogo, com a tecnologia militar, como drones, aviões não tripulados. A humanidade está agora fadada ao consumo desenfreado, de mercadorias descartáveis. Neste futuro que surge, a desigualdade cresce, o consumo aumenta, e nos perguntamos: onde isso vai parar?

Essa é apenas uma ponta do iceberg. Estamos vivendo uma era onde a tecnologia parece nos dar a ilusão de nos aproximarmos da imortalidade. Um mundo onde tudo é gravado, armazenado e potencialmente eterno.

A ideia de imortalidade graças ao digital nos confronta com as reflexões de Dostoiévski em “Os Irmãos Karamazov” (4). Em um de seus debates, o personagem Ivan discute com religiosos sobre a imortalidade e a moralidade. Se não há esperança na imortalidade, “tudo seria permitido”, pois sem ela não haveria pecadores, apenas famintos. Os humanos seriam reduzidos a meros dados físico-biológicos, sem moralidade.

De acordo com o cientista político Ademar Ferreira, essa ideia é ecoada hoje quando olhamos para as capacidades quase divinas que a tecnologia promete – curar doenças, prolongar a vida, e até criar formas de vida virtual. Mas se desvinculamos a tecnologia da ética, do que é ser verdadeiramente humano, corremos o risco de um mundo onde, como Dostoiévski alertou, “Se Deus não existe, tudo é permitido”, como opina o cientista político Ademar Ferreira:

“O dilema muito grande para essa geração que está vindo é se a humanidade vai valer a pena. Eu vou parafrasear o grande debate filosófico que ocorreu no final do século XIX e em todo o século 20,  que era a pergunta de “Os Irmãos Karamazov”, ou se Deus não existe, então tudo é permitido., que era o dilema da moral e como eu vou acreditar na moral sem a existência de um julgador superior? Acho que este dilema está superado, mas o dilema do Século XXI e talvez do Século XXII seja: “será que a humanidade vale a pena.”

Me parece que há um debate ético central aqui, das empresas de tecnologia, as chamadas big techs. Por um lado, elas inovam e trazem soluções que podem beneficiar a humanidade. Por outro, há questões sobre a concentração de poder, a manipulação de informações e a perpetuação da desigualdade.

A antropóloga Letícia Cesarino (5) aprofunda o debate ético da tecnologia ao mencionar o abismo digital que se abre entre os conectados e os desconectados. De acordo com a autora, não é apenas Não é apenas uma questão de hardware; é também sobre ter o conhecimento e a alfabetização digital para participar plenamente na economia e na sociedade de hoje.

A interpretação moderna do direito à privacidade, conforme discutido por Danilo Doneda (6), reflete a complexidade da sociedade atual e vai muito além do “direito de ser deixado em paz”.

Como um dos principais arquitetos da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) (7), Doneda, que nos deixou cedo, foi capaz de estabelecer o elo entre privacidade e proteção de dados, para assegurar o direito à vida privacidade e à família e um futuro sem intromissão.

E você, gostaria de viver num mundo imoral e sem privacidade? Em que tudo é permitido?

Você ainda pode enviar a sua sugestão de tema, crítica ou sugestão para o WhatsApp da Rádio Câmara (61) 99978-9080 ou para o e-mail papodefuturo@camara.leg.br.

Comentário – Beth Veloso
Apresentação – Cláudio Ferreira

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