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Papo de Futuro desta terça dia 09/04 as 06h30min destaca "Por uma internet para além das big techs!".
07/04/2024 08:06 em Atrações

Você sabe o que são as big techs? Sabe como elas impactam a sua vida? Você tem consciência de que sua vida é, de certa forma, controlada por um grupo reduzido de empresas, que são rotuladas como empresas de tecnologia, mas que, na verdade, vendem publicidade? Você está ciente de que essas empresas ameaçam alguns direitos que nós, brasileiros, temos, e que já estão sendo impactados pelas redes sociais? Beth Veloso vai trazer esses assuntos difíceis no Papo de Futuro de hoje. Aproveite para entender o que você não vai ouvir em qualquer lugar.

As big techs como Google, Amazon, Facebook (Meta), Apple, e Microsoft dominam não apenas pelo seu tamanho imenso, mas também por seus impactos significativos em diversas esferas. Por exemplo, Apple e Microsoft têm valor de mercado superior a 1 trilhão de dólares, superando o PIB de muitas nações. O Facebook (Meta) engaja bilhões de usuários ativos mensais, representando uma grande fração da população global. O Google processa bilhões de buscas diariamente, coletando informações vastas sobre preferências e comportamentos dos usuários. Amazon não só domina cerca de 40% das vendas online nos EUA, mas também lidera em serviços de computação em nuvem. Por fim, a Apple, com seus produtos inovadores como o iPod e o iPhone, e a Microsoft, com seu sistema operacional Windows e serviços de nuvem, mantêm parcelas significativas em seus mercados. Esses dados refletem o controle abrangente dessas empresas sobre a economia digital global. 

Mas e a promessa de que essas empresas iriam democratizar a comunicação?

 A concentração do mercado brutal fez esse cenário mudar completamente. E para conversar sobre concentração, eu convidei o professor César Bolaño, professor da Universidade de Sergipe e uma das maiores autoridades globais sobre o assunto. Ele explica que os estudiosos já haviam percebido que essa democratização trazida pela interatividade e do “homem mídia”, em que todo mundo publica, não era real.

“Existe uma aparência de democratização pelo fato de que existem muitas possiblidades de uma comunicação horizontal que antes não havia, uma coisa que nós reivindicamos historicamente é a interatividade e essa nova mídia trabalha com a interativa como algo necessário para essa nova estrutural Nessas condições, a academia foi muito otimista. Nessas condições, a academia no campo da comunicação foi muito otimista com relação a este projeto. Quando, na verdade, Desde o início, nos dissemos isso, essa aparente democratização é, de fato, aparente,” diz Bolaño.

 E como fica a questão da soberania? Além da dimensão pessoal, temos uma questão de Estado também, de ameaças à democracia e ao poder de organização e mobilização da sociedade, pois são empresas americanas ou chinesas, como o TikTok.

 Nós tínhamos certeza que o tempo do coronelismo eletrônico, em que poucas empresas de TV, como os grupos Globo, SBT e Record, dominavam. E agora, além da concentração, vivemos o drama da internacionalização da comunicação, além de diversos outros fenômenos, como sugere César Bolaño:

 “Aquele sistema centralizado, patriarcal, que se dava no plano do controle nacional, considerando a ideia de soberania nacional, foi transferido para agentes externos ainda mais concentrados e, certamente, patriarcais. Você tinha um controle oligopólico interno e passa a ter o controle oligopólico externo, a partir de uma concentração muito grande de poder em nível internacional. Há uma aparente democratização, com uma oferta muito maior de conteúdo, mas a concentração em nível global é muito maior também, porque agora são pouquíssimas empresas que controlam.”

 Esse é um jogo perdido, ou há como lutar ainda por uma comunicação inclusiva que reflita a cultura, os problemas e um projeto nacional?

 O que me inspirou neste programa foi a proposta do professor César Bolaño de discutir um projeto nacional alternativo ao das big techs, ou seja, que a gente crie uma internet do nosso jeito, em que as pessoas produzam e compartilhem conhecimento sem estarem envolvidas nas relações de proteção que levam lucro para os países ricos e tiram dos países pobres.

No artigo “A regulação das plataformas e um projeto nacional”, da revista Outraspalavras (1), Bolaño defende a criação de um marco regulatório para plataformas digitais que não apenas aborde questões técnicas ou de mercado, mas que esteja integrado a uma política de desenvolvimento econômico e social. César Bolaño sugere que tal regulação deve considerar as particularidades dos novos processos produtivos mediados por plataformas e a necessidade de recuperar as conquistas dos trabalhadores. Vamos ouvi-lo.

 “Eu acho que, do ponto de vista das tecnologias da informação e da comunicação, do mundo digital, é possível pensar em uma ação que reforce também as capacidades de conhecimento e a criatividade brasileira nessas áreas através da regulação das plataformas. É preciso entender que as plataformas não são apenas as big techs; é necessário separar o conceito de plataforma puramente tecnológico do fato de que ela se organiza como uma empresa privada norte-americana que controla o mercado internacional. A existência da plataforma, do ponto de vista tecnológico, é interessante, mas é preciso ver como elas se organizam em torno disso, porque você tem 4 big techs que controlam o mundo, e tem milhares de plataformas que são dependentes destas big techs, onde a criatividade nacional está sendo exercida diariamente. O que precisamos fazer é garantir, através de uma política de ciência, tecnologia e desenvolvimento, o desenvolvimento dessas capacidades, dessas empresas, dessas iniciativas comunitárias, cooperativas, para que elas tenham capacidade de desenvolver as suas potencialidades.”

 Para além da crítica ao processo de “plataformização” da economia e suas implicações para a cultura e a sociedade, não é fácil pensar em rotas alternativas.

Bolaño nos convida a olhar para o nosso sistema de saúde, os repositórios de dados assistenciais e de saúde que já criamos, bem como dados financeiros, para pensar em um projeto em que o Brasil possa criar ferramentas para ser indutor da inovação e desenvolvimento de produtos também na área da comunicação.

É inspirador acreditar que há alternativas para além de enviarmos para fora toda a criatividade do brasileiro, um dos povos que mais cria conteúdos na internet. Assim como a jabuticaba e o petróleo, o conteúdo deve trazer riqueza para o nosso país, e a regulação das plataformas é um pilar sem o qual não vamos conseguir reescrever esta história de aparente recolonização do país, agora no formato digital.

 Você também pode enviar a sua sugestão de tema, crítica ou sugestão para o WhatsApp da Rádio Câmara (61) 99978-9080 ou para o e-mail papodefuturo@camara.leg.br.

  • https://outraspalavras.net/tecnologiaemdisputa/a-regulacao-das-plataformas-e-o-projeto-nacional/

Comentário – Beth Veloso
Apresentação – Cláudio Ferreira

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