Qual a diferença entre afrontar, defrontar e confrontar? Estar na Sociedade do Conhecimento não significa necessariamente ser conhecedor de mais coisas. Viver na era da informação não se traduz automaticamente em ser mais culto ou melhor informado. Estar na internet todos os dias não tornará alguém mais interessante ou mais preparado para o mercado de trabalho. O paradoxo da era moderna é que a superinformação não nos está tornando mais inteligentes. Este é o tema do "Papo de Futuro" de hoje. Vamos explicar por que mais informação significa menos sabedoria e como podemos resolver essa equação tão desafiadora nos dias de hoje.
Há uma pressão enorme sobre as gerações atuais, que supostamente são mais evoluídas que as anteriores: crescem mais, são mais bonitas, mais saudáveis e, claro, mais inteligentes que seus pais. No entanto, as redes sociais estão repletas de posts dizendo que o QI da geração Y diminuiu, que estamos desaprendendo a estudar, a escrever e até a falar; que são tantas gírias e memes que estamos nos tornando papagaios, apenas repetindo o que os outros dizem, gerando padrões não apenas de comportamento, mas também de linguagem.
Nosso querido colega Rogério Cancela me enviou um post dizendo: "A geração atual não tem vocabulário... Adeus, linguagem generativa. Simplesmente, essa geração não conseguirá nem fazer uma pesquisa no ChatGPT." E isso é um fato; eu uso o chat como editor de texto: pesquiso, busco fontes variadas, estruturo o texto, escrevo, hierarquizo a informação, edito e dou um comando básico para melhorar a clareza e coesão deste texto. E é simples assim. Portanto, Rogério tem razão, e isso se deve a alguns fatores. Vou citar três:
- Não lemos livros como antes. Isso limita a imaginação, o vocabulário, as ideias, o repertório e a capacidade de contar histórias.
- A era do microconteúdo, ou "shorts", impede que você se aprofunde nos temas, e sem aprofundamento, não se consegue formar uma opinião própria; você não se tornará especialista em nada.
- A educação plataformizada atual, onde se estuda não para aprender, mas apenas para passar em provas, é um desastre para a construção de um conhecimento sólido para a vida toda.
Para pensar e processar, são necessários anos de estudo, e as novas gerações não têm paciência para a imersão; elas querem apenas a volatilidade do tempo e das coisas, ou seja, a modernidade líquida, a superficialidade. Isso influencia o pensar das novas gerações?
Fui ouvir a opinião de uma especialista no assunto, a advogada e professora Ana Frazão, que admiro muito. Além de ser uma mulher extraordinária, ela é uma comunicadora nata, escrevendo artigos na coluna Jota e no podcast Direito Digital.
Perguntei à Ana como separar o que importa, em termos de conteúdo, do que não importa.
"Essa é uma questão filosófica, porque as facilidades tecnológicas estão retirando parte da autonomia das pessoas, pois elas acabam mais reagindo do que agindo. Você pega o celular para ver uma mensagem e, de repente, fica uma hora sem perceber, recebendo um monte de conteúdo inútil, que não teria interesse em ver naquele momento. Mas, como existem muitas técnicas de captação da atenção, essas coisas acabam acontecendo. Alguns autores se referem ao 'mercado da atenção', onde nossa atenção, nosso tempo, é disputado o tempo inteiro. Outros dizem que é um 'mercado da consciência', porque o que se quer, na verdade, é a captura da consciência das pessoas."
Eu acredito que este déficit de atenção que vivemos hoje é realmente preocupante. Se já somos pressionados a fazer mil coisas ao mesmo tempo, agora temos uma demanda muito maior, que é 24/7, pressionados a gerar conteúdo, consumir informação e acumular muitas tarefas ao mesmo tempo, sobretudo para crianças e adolescentes, que não conseguem regular o uso da internet para poder ter uma vida fora da rede, não é?
Estudos neurológicos, bem como debates sobre sociedade, política e psicologia, mostram que estamos vivendo num mundo cada vez mais acelerado e desconectado do tempo da natureza e de suas forças mais primordiais. Por isso, é preciso voltar às origens, a um tempo em que o lazer e o ócio eram valorizados.
Para isso, temos que limitar o tempo de telas, ensina a Ana Frazão.
"Isso é um problema sério. Precisamos desenvolver mecanismos de cuidado e controle, como limitar o tempo de uso de dispositivos para evitar dispersão quando precisamos de concentração, além de outras formas de interação. Há estudos que mostram que muito do cansaço que vivemos hoje decorre dessa multifuncionalidade para a qual o cérebro não está preparado. Estamos trabalhando e respondendo mensagens pessoais ou vivendo momentos pessoais e trabalhando ao mesmo tempo. Precisamos retomar o controle da nossa vida."
Talvez essa questão esteja associada à educação, mais do que nunca. Pois a habilidade de se educar para usar a internet como aprendizagem, que vai muito além das redes sociais, é tão essencial que não pode ser uma tarefa individual ou da família, mas uma função do Estado.
A internet é, sim, um assunto para as escolas, mas também para a legislação. Precisamos reaprender a usar a internet e reivindicar a internet que queremos. A rede é como uma arma: pode ser usada para regar uma planta ou para bater em alguém. Usei um exemplo simples para chamar a atenção de que a sociedade decide como quer aprender, pensar, agir e construir. E quando a sociedade não se organiza para fazer isso, o mercado o faz, atendendo aos seus próprios interesses, exclusivamente.
É esse o alerta que Ana Frazão faz.
"A tecnologia tanto pode nos libertar quanto nos escravizar, e quem vai decidir somos nós. Se isso é preocupante, temos visto que a tecnologia tem trazido um retardamento ou mesmo uma diminuição das nossas habilidades cognitivas. Hoje, não memorizamos mais nada, não sabemos calcular, porque temos todos os recursos no celular, que se tornou um segundo cérebro acoplado ao verdadeiro. Estamos diante de um futuro onde, daqui a pouco, as pessoas não saberão mais produzir texto, e temos estudos mostrando que o QI das atuais gerações está inferior ao dos pais. Por isso, a diferença entre o veneno e o remédio é a dose. Se não mantivermos nosso livre-arbítrio e não formos controlados pelas máquinas, dificilmente conseguiremos construir uma vida saudável e feliz."
Com essa mensagem de alento, mas também preocupante, o "Papo de Futuro" pode ser uma gota neste oceano de pessoas seguindo um padrão que não é nem saudável, nem feliz. Por onde a gente começa para mudar tudo isso.
A gente começa fazendo a nossa parte. Se cada um fizer sua parte, saindo do automático, pegando um livro para ler e se afastando, cada dia, meia hora a menos, das redes sociais, teremos uma geração mais presente, consciente e inteligente.
Como Parlamento, vamos votar leis que protejam as crianças, pois os adultos já têm o livre-arbítrio, como bem lembrou Ana Frazão.
Felizmente, vivemos numa democracia, ainda que alguns possam mais do que outros.
Se você pensa diferente, escreva para nós nas nossas redes. É o diferente que vai nos levar além.
Para mais debate, acesse as nossas redes sociais e deixe a sua opinião. Você também pode enviar a sua sugestão de tema, crítica ou sugestão para o WhatsApp da Rádio Câmara (61) 99978-9080 ou para o e-mail papodefuturo@camara.leg.br.
Comentário – Beth Veloso
Apresentação – Marcio Achilles Sardi