No programa de hoje, vamos falar sobre a relação dos adolescentes com o mundo digital e os desafios que essa fase apresenta. Como a internet e as redes sociais impactam o desenvolvimento ético, a construção da autoimagem, e até questões de segurança envolvendo grupos extremistas. Vamos explorar os riscos e como podemos protegê-los, com a colaboração de especialistas que nos trazem reflexões importantes, com a jornalista e consultora legislativa Beth Veloso
Os adolescentes estão em um momento importante de suas vidas, ainda em fase de desenvolvimento de valores éticos e com uma capacidade de empatia que nem sempre está totalmente formada. Isso pode gerar situações de risco, especialmente no ambiente virtual.
Eu conversei com a hebiatra, Jadi Pedrosa (1), que no Piauí e na Bahia acompanha atentamente a saúde dessa faixa de idade e a nova ciência da saúde digital. Jadi, além de pediatra especialista em adolescentes, é também conselheira de segurança da Plataforma Tik Tok no Brasil.
Ela conta porque esse debate é tão importante e urgente.
“Apesar de terem recebido orientações sociais, escolares e familiares, os adolescentes ainda estão em fase de construção de seus valores éticos. Uma característica não muito presente nessa fase é a empatia. Dependendo do que é oferecido a eles no ambiente virtual, e considerando que essa baixa capacidade de empatia está ligada ao neurodesenvolvimento ainda em curso, cria-se um espaço de riscos. Por isso, sempre ressalto que eles precisam ter supervisão responsável, mesmo que já sejam mais velhos, porque seu senso crítico é limitado. As redes sociais e a internet podem, muitas vezes, representar grandes armadilhas para eles.”
O que vemos aqui é uma combinação a necessidade de trabalhar a empatia e exposição ao ambiente virtual sem a devida supervisão. Como evitar que essas ‘armadilhas’, como redes sociais e outros espaços digitais, prejudiquem o desenvolvimento saudável dos nossos jovens?
É preciso buscar uma solução abrangente, que faça um diagnóstico profundo e envolve diversos atores sociais, políticos, governamentais e a sociedade. Outro tema que preocupa é a forma como os adolescentes constroem sua autoimagem, especialmente em um ambiente repleto de filtros e padrões de beleza inatingíveis. Essa pressão digital tem causado problemas graves, como dismorfia corporal e até transtornos alimentares, como destaca Jadi Pedrosa.
“Outro ponto problemático é a construção da autoimagem. É notório que, com essa nova forma de existir nas trocas digitais, a busca por procedimentos estéticos aumentou significativamente. O adolescente precisa ser protegido de tantos filtros e representações estéticas irreais, que acabam impactando negativamente sua autoimagem. Isso aumenta o risco de desenvolver dismorfia corporal, que pode evoluir para transtornos alimentares, uma preocupação recorrente para quem trabalha com saúde mental.”
A pressão por um corpo ideal e o uso indiscriminado de filtros podem ter consequências sérias. Como enfrentar essa questão da saúde mental dos adolescentes.”
As redes digitais não apenas impactam a autoimagem, mas também podem se tornar um campo fértil para o aliciamento de jovens por grupos extremistas. Um exemplo preocupante foi o caso de um adolescente recrutado por neonazistas através de um jogo online, como explica Jadi.
“Houve um caso em que os pais foram chamados pela escola porque o filho e outros alunos estavam fazendo comentários racistas. Ao fiscalizarem e retirarem o celular do adolescente, os pais descobriram que ele estava participando de grupos neonazistas, e que isso começou através de um jogo. Existem estudos sobre essas estruturas, onde grupos específicos sabem quais espaços frequentar e quais faixas etárias são mais vulneráveis, geralmente entre 10 e 14 anos. Esse adolescente, que era considerado ‘nerd’, acabou entrando nesse grupo e se tornando parte de uma célula neonazista.”
É importante adotar uma abordagem de segurança digital que considere a idade e o desenvolvimento dos adolescentes, de modo a proteger seu bem-estar nas redes, segundo Jadi Pedrosa. Esse é o trabalho que desempenha como conselheira do Tik Tok.
“As pessoas me perguntam o que eu faço. Minha função é problematizar e propor estratégias de segurança. Trouxemos uma categorização etária, que reflete nas ferramentas utilizadas. Reconhecemos que um adolescente é diferente de um adulto, e por isso limitamos certas ferramentas que podem prejudicar seu bem-estar. O pensamento precisa ser coletivo, assim como a responsabilidade. A partir dessa clarificação, podemos estabelecer limites mais seguros para os adolescentes, de segurança ampliada.”
Hoje discutimos os desafios do uso da tecnologia na adolescência e os riscos que o ambiente digital pode trazer para o desenvolvimento dos jovens. O caminho para protegê-los envolve supervisão, diálogo e uma compreensão profunda das armadilhas que a internet pode esconder.
Para além de punir quem produz o conteúdo, é necessário que a responsabilização seja universal. Ou seja, não apenas o produtor, mas também quem dissemina esse conteúdo — sejam as big techs ou qualquer pessoa que faça parte dessa cadeia de produção e distribuição de conteúdo falacioso, falso ou criminoso — deve ser responsabilizado. Isso inclui plataformas que permitem a circulação desse tipo de material, já que têm papel ativo na amplificação e perpetuação da desinformação e crimes digitais.
O tempo de tela também é importante.
Conteúdo virtual é um risco real.
Vivemos uma revolução, é preciso sair do entusiasmo e reconhecer os problemas, para buscar as soluções.
- https://www.instagram.com/jadi.pedrosa.hebiatra/reels/
Você ainda pode enviar a sua sugestão de tema, crítica ou comentário para o WhatsApp da Rádio Câmara (61) 99978-9080 ou para o e-mail papodefuturo@camara.leg.br.
Comentário – Beth Veloso
Apresentação – Mauro Ceccherini