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Papo de Futuro desta terça dia 12/11 as 06h30min destaca "É possível tirar crianças e adolescentes das redes sociais?".
Atrações
Publicado em 10/11/2024

O uso excessivo de telas está cada vez mais comum em nossa sociedade, e com isso surgem diversos problemas associados a essa prática. As pesquisas apontam para uma série de impactos negativos na saúde física e mental das pessoas, especialmente entre os jovens. No segundo episódio da série do Papo de Futuro sobre o impacto das redes sociais na infância e na adolescência, a gente discute o crescimento dos índices de ansiedade, depressão e até mesmo suicídio entre os menores, em razão da dependência crescente das telas.

 A dependência digital é real. E incrível perceber que este problema não existia alguns anos a trás, e hoje, as redes sociais são tão preocupantes quanto o contato dos filhos com as drogas ou com o bullying nas escolas. Não estamos falando de um receio, mas de sintomas concretos de que as crianças estão doentes e isso está demonstrado nos consultórios médicos.

Em primeiro lugar, é preciso entender e contextualizar o problema, ou seja, o desafio não é o uso da tecnologia em si, mas é a exposição prolongada às telas.

A Doutora Andrea Campagnolla é pediatra há mais de 15 anos, atua em Campinas tanto em consultório quanto na rede hospitalar e vivencia diariamente essa transformação disruptiva da dominação das redes sociais em nossas vidas.

Mas ele lembra que as telas não são, por si só, tóxicas dentro do contexto da família.

“Eu entendo as telas como uma rede de apoio. Elas ajudam as famílias, especialmente pais e mães que fazem home office, em momentos corridos, como na hora do jantar. Eu acabo usando a tela para agilizar essa atenção. Entendo que elas se tornaram parte do nosso cotidiano e normalizamos o acesso a elas porque estamos sobrecarregados e sem recursos. Além disso, é um bem de consumo muito sedutor, e algumas famílias veem isso como uma vantagem ou status, como se não tê-los as deixasse por fora de tudo que está acontecendo e menos capacitadas. ”

O celular hoje é um dos vínculos sociais mais fortes que a criança e o jovem têm com a sociedade. Mas é preciso fazer uma distinção de idade, de tipo de uso e também até mesmo do sexo.

A Sociedade de Pediatria não recomenda celulares para menores de 2 anos. E no máximo 1 hora por dia entre 2 e 5 anos. Mas eu diria que os celulares só deveriam parar na mão de uma criança após os 13 anos de idade. Antes disso, as crianças precisam se socializar, brincar, aprender e enfrentar os desafios da vida real, e não serem tuteladas pelo conteúdo que as big techs envia para elas, marcados pelo ódio, pelo extremismo, pelo gosto pelo bizarro, pelo consumo e pelo sensacionalismo.

Olha quanta coisa ruim, inadequada, que não agrega.

Mas as crianças precisam se comunicar com outras crianças, certo? Então que se comuniquem pessoalmente, nos espaços sociais, na sala de aula, nos parques, nas festas, na igreja.

A Dra. Andrea explica que existe um corte etário que deve ser feito quando a gente fala em idade adequada para estar nas redes sociais.

 “Quando pensamos no prejuízo e no dano excessivo causado pelas telas, gosto de dividir por faixa etária. Vamos pensar nas crianças até doze anos. O que estamos fazendo com o cérebro de uma criança dessa idade ao entregar um dispositivo altamente viciante, de informação rápida, que causa ansiedade? Estamos criando jovens muito ansiosos, que não sabem conviver e que não têm o senso de comunidade necessário para nós como seres humanos. Eles deixam de brincar, de frequentar espaços ao ar livre, de se relacionar com amigos, e isso impacta a vida deles no futuro. ”

Essa realidade deve ser olhada de maneira clínica, mas também com base em estudo científico. O que seria o ideal para os adolescentes e como tirar deles esse vício que é o celular?

Em primeiro lugar, aprender a dizer NÃO. A Dra. Andrea é mãe da Beatriz de sete anos, que atualmente está no primeiro ano do fundamental 1, e não tem celular. Como mãe, a Dra. Andrea, simplesmente diz não, como diz não para tantas outras coisas.

Ela lembra que os prejuízos para meninas e meninas na adolescência são imensos

 “Quando passamos para a adolescência, acima dos treze anos, há diferenças de impacto entre os gêneros. Para as meninas, a situação é um pouco mais catastrófica. Elas estão mais nas redes sociais do que os meninos, enfrentando questões de imagem corporal, distúrbios alimentares e uma taxa de suicídio que aumentou exponencialmente a partir de 2012, tudo isso impactado pelo uso indiscriminado das telas. Para os meninos, o comportamento tende mais à adição, ao vício em games, que os seduzem por não exigirem esforço e apresentarem menos consequências que a vida real. Em ambos os sexos, o uso excessivo de telas impacta diretamente a qualidade do sono e o desempenho cognitivo na escola, com perda de concentração, de interesse e de desempenho acadêmico. ”

 É preocupante que esses problemas aconteçam em escala global. Só no Brasil, as pesquisas indicam mais de 25 milhões de crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos navegando na internet, segundo a pesquisa Tic Kids (1) . Como lidar com isso em termos de política pública?

A gente precisa de um conjunto de ações, que envolvam os pais, as escolas, as secretarias de educação e os legisladores, para poder tirar o celular das salas, pelo menos a ter que se tenham políticas razoáveis para uso dos dispositivos na educação.

Eu tentei entrevistar as mães fundadoras do movimento Desconecta (3), mas felizmente eles estão cm tanta demanda, que não conseguiram falar com a gente. São pais que estão fazendo acordo para tirar os celulares dos filhos de uma maneira coletiva, e eles tem o apoio das crianças, o que é mais incrível.

A Dra. Andrea Campagnolla nunca deu o celular para a filha, mas ela admite que essa é uma decisão muito corajosa e difícil, porque vai contra uma cultura de uma geração que não sabe educar com limites.

 “Nossa geração de pais e mães tem dificuldade em colocar limites, mas a questão das telas não pode ser vista como uma culpa individualizada, é uma questão social imensa. Todos estão fazendo, e quando uma criança é a única sem celular, ela se sente excluída. Precisamos de medidas coletivas e de políticas públicas. Uma medida importante é a respeito da presença de smartphones no ambiente escolar. Eu não vejo vantagem em levar um celular para a escola, pois ele tira a atenção, mesmo que esteja na mochila. A distração em sala de aula é significativa, e liberar o uso do celular nesses espaços prejudica a convivência, a conversa e a comunidade entre os adolescentes.

 Você pode iniciar um movimento como o Desconecta na sua escola. Leis estão sendo aprovadas. Os médicos estão se mobilizando, os consultórios de psiquiatria, projetos de lei, como o  PL 2628, de 2022 (3), estão sendo discutidos, as crianças também querem ser ouvidas e estão cansadas de ser escravas de uma rede social. A mudança é possível, mas ainda estamos longe de uma conscientização coletiva. Mas O papo de Futuro é parte dessa luta pelo resgate da alegria, da saúde e das brincadeiras na infância. Eu deixo no texto escrito uma série de links úteis para quem quer aprofundar na matéria.

Conexões verdadeiras são as conexões reais. Nos acompanhe nas nossas redes sociais para ter uma visão mais crítica. No próximo programa, vamos falar dos crimes contra os menores, do sexual ao assédio moral.

 Dê a sua opinião nas mídias digitais da Rádio Câmara e no Youtube da Câmara dos Deputados. Você também pode enviar a sua sugestão de tema, crítica ou sugestão para o WhatsApp da Rádio Câmara (61) 99978-9080 ou para o e-mail papodefuturo@camara.leg.br.

*Pode haver diferenças entre o texto falado e o texto escrito.

Comentário – Beth Veloso
Apresentação – Cláudio Ferreira

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