Qual o futuro da comunicação e dos departamentos de comunicação nas organizações? Como as empresas lidam com o novo cenário do Big Data, onde tudo se transforma em dados armazenados em servidores espalhados pelo mundo? Como as organizações enfrentam o excesso de informação e gerenciam isso internamente? Qual o impacto das redes sociais e das notícias falsas na comunicação entre os empregados? Como os funcionários se comunicam entre si? Essas e outras questões são abordadas pelo Monitor Latino-americano de Comunicação, estudo que vai nos ajudar a entender melhor essas questões.
O Monitor Latino-americano de Comunicação é o maior estudo sobre comunicação estratégica e relações públicas na América Latina. A edição de 2022-2023 contou com o apoio de 34 universidades e a participação final de 1.134 profissionais de 20 países.
Os resultados confirmam o poder crescente da comunicação digital. Em primeiro lugar, é fundamental fortalecer o debate sobre diversidade, equidade e inclusão, especialmente em um contexto de predominância de notícias falsas e desigualdades de gênero. E sim, as notícias falsas também impactam significativamente as organizações.
Em segundo lugar, há uma grande necessidade de avançar na digitalização dos departamentos de comunicação e das agências, buscando excelência tanto na comunicação interna quanto externa — algo que, infelizmente, ainda está longe de ser alcançado em muitos casos.
Em terceiro lugar, é preciso reconhecer que as mulheres ocupam hoje posições-chave nas organizações, mas ainda enfrentam desigualdade salarial e falta de reconhecimento.
Uma das colaboradoras do estudo, Andréia Athaydes, que é doutora em Comunicação Organizacional pela Universidade de Málaga, na Espanha, informa que, a partir da aplicação de um questionário detalhado, proporciona um diagnóstico sobre o setor, as universidades da América Latina têm ajudado os profissionais de comunicação a compreenderem suas fragilidades e, assim, desenvolverem novas competências profissionais. Essa melhoria contribui para a redução do estresse gerado pelo cortisol e do burnout causado pela sobrecarga de informações — um fenômeno conhecido como hiperinformação, que leva ao desejo de estar on-line, consumindo informação 24 horas por dia.
A Andréia Athaydes destaca que as organizações, além de utilizar as mídias digitais, têm um papel pedagógico fundamental. Elas devem atuar para que a população compreenda melhor o processo de produção das notícias e como verificar sua veracidade, começando pelo sistema interno de comunicação com seus colaboradores.
“O que estamos discutindo com os profissionais é que o melhor caminho é que as organizações assumam um papel pedagógico. Elas devem ajudar a população a entender a literacia midiática: como as notícias são produzidas, quais credenciais são necessárias para avaliar se uma informação é verdadeira. E isso começa dentro da organização, com os colaboradores.”
Hoje vivemos em um cenário de excesso de informação, o que não significa que as organizações estão se comunicando de maneira mais eficiente?
Esse é um dos principais achados do estudo. A era do Big Data, com acesso a uma quantidade imensa de informações, gera insegurança, estresse e até adoecimento nas organizações. O estudo revela que, embora tenha havido avanços, apenas 21% das organizações têm uma comunicação de excelência como fator de produtividade. Embora tenha melhorado, essa porcentagem ainda está abaixo dos 30% observados em monitores realizados em outros países, como o monitor europeu.
Além disso, o excesso de canais de informação não contribui para uma maior compreensão ou eficiência. Na verdade, a comunicação deve ser focada e precisa, sem repetições desnecessárias. Vamos ouvir novamente a Andréia.
A principal preocupação dos profissionais em 2014 e 2015 era sobre como lidar com o fluxo e a velocidade da informação, algo que era uma tendência crescente, mas agora caiu para o terceiro lugar. Nesta última edição, a gente percebeu que as organizações que estão trabalhando com uma comunicação interna robusta estão conseguindo colaborar para que seus profissionais fiquem menos pressionados pela comunicação.”
Só para entender que essa comunicação robusta é permitir que as pessoas saibam onde encontrar as informações. Muitas organizações criam até 20 canais para comunicar a mesma coisa. Ter um número menor de canais internos permite uma comunicação mais focada e eficiente, além de ter canais de escuta eficientes.
Além da digitalização, é fundamental que os departamentos de comunicação e as agências de relações públicas utilizem as novas tecnologias para promover uma nova cultura organizacional que combata a desigualdade de gênero no mercado de trabalho.
A Andréia Athaydes explica que existe uma grande brecha salarial, com mulheres recebendo até 50% a menos que os homens, e isso é algo que precisa ser abordado com mais urgência. Vamos ouvi-la.
“A comunicação é, em grande parte, feminina. Em todas as áreas, a ente vê o predomínio das mulheres. As latino americanas, em muitas organizações, as mulheres já ocupam posições de liderança máxima, mas ainda não vemos esse reflexo nos salários, como a gente consegue perceber em todos os lugares.”
Ao falarmos de organizações, não estamos, de certa forma, isentando a responsabilidade individual de cada um em se envolver numa nova cultura informacional?
O mais interessante da pesquisa é que o tema diversidade, equidade e inclusão vem ganhando cada vez mais destaque, o que demonstra um movimento em direção a uma mentalidade mais aberta, alinhada com os direitos humanos e os direitos fundamentais. No entanto, esse ainda é um caminho longo. Segundo a pesquisa, apenas 36% dos profissionais acreditam que a comunicação tem um papel central no combate à desigualdade, enquanto 62% acreditam que essa responsabilidade deve ser compartilhada por toda a organização.
O Latin America Communication Monitor 2022-2023 traz insights valiosos para combater as fake news, enfrentar o excesso de canais de informação, melhorar o diálogo interno e aumentar a competitividade das empresas, criando um ambiente de trabalho mais justo, o que, por sua vez, impacta positivamente nas políticas públicas de igualdade de gênero e no desenvolvimento econômico e social dos países envolvidos.
**Parabéns ao Latin America Communication Monitor!
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Comentário – Beth Veloso
Apresentação – Mauro Ceccherini